sábado, 13 de março de 2010

…dóceis como ópio



não me negues o olhar
agora que já não te consigo ver
os sentidos perderam-se na boca do inferno
na língua de cadáveres esfomeados
penosamente, dóceis como ópio
não rasgues o céu que não te pertence
no brilho que refutas com inglórias
de tudo, que já não te é semelhante,
guarda o fato preto, abutre!
encharca-o de naftalina
quando eu morrer serei as cinzas da tua cegueira,
na garganta do meu silêncio guardarei
os nós do arame farpado dos teus gritos

4 comentários:

Luis Ferreira disse...

Nas asas do vento, trouxe-te um poema:

"As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas...."
Eugénio de Andrade

Adorei visitar-te. Adoro ler o que escreves.

Nas tuas palavras, encontro o grito mudo e o alerta a quem cego caminha.
Bj
Luis

João Videira Santos disse...

Gosto de palavras vivas,como estas..."na garganta do meu silêncio guardarei
os nós do arame farpado dos teus gritos"

Aníbal Duarte Raposo disse...

Conceição,
Gosto muito de ler os teus poemas.
Voltarei sempre.
Beijos

Júlio Saraiva disse...

seus poemas são poemas de quem não tem medo e nem vergonha de rasgar a alma, ainda que o preço disso seja alto - bem alto. não são, no entanto, poemas paridos unicamente pelo sentimento, pela emoção. são poemas trabalhados por quem tem cuidado, extremo cuidado com as palavras. e sabe usá-las, cada uma, na hora certa.

te amo, maninha.

j.