quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Retirem-nos estes cadeados



Libertem-me!
Retirem-me estes cadeados,
que se escondem na vergonha
nos meus pulsos de mulher.

Vivo como uma escrava
encarcerada em roupas malditas,
sinto o chão desabar
sobre os meus pés descalços.

Sou um pedaço de carne
que atiram aos cães
quando deixar de ser útil
libertem-me!

Desta libertinagem,
deste país,
onde os homens
nos olham como se fossemos
a maldição.

in Linhas Incertas

José Luís Lopes diz sobre o meu livro Linhas Incertas

Linhas Incertas - Conceição Bernardino

Olá Conceição Bernardino,
Pensei enviar-te um MP para te dar conta da satisfação que o teu livro “Linhas Incertas” me proporcionou, mas pensei que era injusto para Autora guardar para mim algo que deveria ser divulgado para todos aqueles que gostam de ler, especialmente poesia.
Mentiria se te dissesse que não me surpreendeste, peço desculpa por este laivo de machismo, mas esta mente irracional e ao fim de quase meio século, ainda é capaz de produzir sempre à revelia da minha parte consciente estereótipos de educação. Esperava uma escrita mais virada para a autora, mais lírica, sentimental, enganei-me redondamente!
Em boa hora comecei a ler e reler, como eu sempre gosto de fazer, em paz… sem as pressas que esta vida constrói, retirando-nos a acidez crítica que obrigatoriamente deveríamos ter, e ser capaz de ver sem auxílio de um qualquer livro, por melhor que seja escrito ou desenhado. Mas foi o que o teu livro me fez, descer aos mais necessitados, dar-lhes visibilidade, dar-lhes voz e volume na minha mente, nada disseste ou escreveste que eu não soubesse, apenas foste capaz de armar as palavras de raiva e força para esta maldade que dia-a-dia o mundo alimenta, e ao mesmo tempo vesti-las de bondade, amor e compreensão, para melhor dizeres o que apenas pode ser dito com carinho e bondade. Minha amiga, só alguém com grande carácter e verdadeiramente sensível, madura, é capaz de descrever os outros (desfavorecidos, sem a sorte da vida) como tu o fazes, parabéns pelos textos, parabéns pela poesia, mas acima de tudo parabéns pela arte de ver o que todos vêem, mas apenas os “escolhidos” são capazes de escrever esta doença das sociedades, esta velha, nova preocupação social.
Para finalizar deixei-me cair no engodo de escolher um escrito, não foi fácil, gosto de desafios, mas detesto separar o que está junto, abomino ter que deixar alguma coisa para trás, até uma escolha que nada afecta a Autora deixa-me triste por preferir mais um poema do que outro, escolhi então dois poemas para me decidir por um: “Transparência da dor” e “Gratidão”.
Destes, escolhi um sem saber o que tinha a mais do que o outro, talvez porque choras a escrever.Eu também!

Transparência da dor

Trago nas mãos o esquecimento
Que nada mais posso escrever

Se os meus versos fossem
Almas, que chorassem diante
De quem os chega a ler.

Os meus olhos são rios
Que se alargam nas tempestades,
São dilúvios aprofundados
Que se desfazem nas páginas
Da minha dor

Tudo se torna em ruínas
No âmago do meu ser.

Ai… como eu desejava
Que os meus versos chorassem,
Como eu choro
Quando estou a escrever…

Um beijo grato deste novo teu leitor,
José Luís Lopes

JoséLuísLopes http://colunadosdeuses.blogspot.com/

Carlos Teixeira Luís diz sobre o meu livro Linhas Incertas

Carlos Teixeira Luis o autor de"Histórias do Deserto", lançado em 8 Maio 09. Poemas e prosas. Promoção especial em Agosto. Peça ao autor.
http://verderude.blogspot.com/
http://estoriasdodeserto.blogspot.com/




Dedicou este poema ao meu livro Linhas Incertas
Incerto é o coração de quem escreve,
De quem descreve
O inferno devorador da realidade
E o amor,
O outro amor das coisas
Simples.

Estas linhas “deslizam sobre o meu rosto”
E só as leio
Como quem as vive.

Esta poesia sofre a agonia da verdade,
Intensa voz de quem clama
No silêncio certas dores.

Esta poesia tem várias vozes,
Umas duras “cospem raiva como cães”,
Outras de “jovialidade humilde”.

Esta poesia ama e odeia,
Forte como um sol, livre,
Voz de vozes caladas.

Como diz a poetisa, esta poesia
Vive do sangue derramado e
“amordaçam-me as cordas vocais” diz a voz...

Intenso realismo, intenso secretismo
De expressões ricas e vivas.
Poesia nobre, boa e sofrida.

A metáfora forte vive neste local,
Colinas verdes de urze e vento,
Terra que nos habita e nos acolhe.

Paz aos homens e mulheres de Darfur,
Até ao coração do leitor de sofrimentos...
Paz para os de coração quente e bom
Os que escrevem, os que lembram,
Os que sentem, o que não é nosso
Mas por nós vivido, dentro, dentro...

2 ago. 09
Carlos Teixeira Luis

O livro de Conceição Bernardino "Linhas Incertas", editado pela editora Mosaico de Palavras, traz uma poesia madura, intensa e atenta ao mundo que geme de dor.
A poetisa dá voz a vários personagens que gritam no silêncio. Dá-lhes dignidade e vida.
Os ecos de muitos corações perdidos fazem-se ouvir. Não é uma poesia fechada em si, mas sim aberta ao cosmos interior de cada um. Recomendo. Para ser lida com vagar e consciência aberta.


Música e voz oferecida pelo meu amigo do Luso-Poemas JoséSilveira, ao poema de Carlos Teixeira Luís dedicado ao meu livro.

José Silveira http://www.contei-porai.blogspot.com/ http://www.palavrasdepoeta.blogspot.com/


Música e voz

http://www.clesioboeira.com/meump3/ESPEC-linhas.mp3

Apresentação do Linhas Incertas pela Mosaico de Palavras Editora