terça-feira, 22 de setembro de 2009

Cega-me a foice…



As terras áridas de centeio
correm-me nas veias
o negro espalha-se
pelos campos da fome,
gela-me o frio
sobre as palhas
do trigo sem sustento.
.
.
Cega-me a foice…
…na cegueira da colheita
.
.
Os ma trigais secaram
na boca de quem as alimenta,
as mãos enrugadas
carregam o fardo
no vazio das cinzas avermelhadas
queimadas em solidão.
.
.
Cega-me a foice…
…na cegueira do nada
que me resta.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Racismo


Só lá ficaram as corjas do sonho
naquelas mãos manchadas de sangue,
embriagadas de um vermelho purpúreo
onde os apelidos eram escritos
por ordem alfanumérica
sem mágoa nem piedade.

As folhas iam caindo, uma a uma
esmorecidas, amareladas já sem confiança,
espalhadas aos montes
sem qualquer utilidade,
malditas cores hostilizadas
que se erguem em bandeiras,
como quem ergue punhais,
uns gritam palavras de ordem,
outros matam-se como animais
quando as mãos se cruzam
e os vultos se misturam.

A distinção simplesmente desaparece
na própria semelhança
de sermos apenas
tão parecidos, tão iguais