sábado, 23 de janeiro de 2010

pretérito inacabado


A noite está fria, pardacenta
a lua já não me visita
nem os ramos secos das árvores
se curvam solenemente para mim.

Agora…

Sou eu que me curvo na sombra
dos latidos dos cães
lambendo as feridas enfadadas pelo tempo
de um pretérito imperfeito qualquer
onde a morte é sabida sem diferençar ninguém.

Já me matei tantas vezes ao saber de mim viva
que viva de mim não sei…porque me matei

sábado, 16 de janeiro de 2010

trinta segundos…apenas


Porto Príncipe ruiu em trinta segundos
as pedras mancharam-se de sangue
as bocas calaram-se em cal nos túmulos improvisados
no calvário dos mutilados pela fúria do asfalto aquecido

A sobrevivência era uma miragem,
ignorada pelos despojos da corja maldita
que teima em calcar a merda do chão
a mesma por quem fingem hoje a dor.

Malditos!
Malditos!

que este povo nunca foi digno de um vintém
foram precisos apenas trinta segundos
para se apoderarem da benevolência
de quem nada tinha,
juntem agora os corpos dilacerados
e prometam-lhes o céu
ou a capela sistina