domingo, 30 de outubro de 2011

Este país não é para mim



O mundo virtual é uma maravilha protegeu-me da forca ou dos pregos mas dos insultos não me livrei. Para o que me havia de dar, postei a minha coluna (salve seja) o texto “este país não é para velhos” no facebocas naqueles grupos de literatura e quase fui trinchada por alguns membros facebokianos. Tive que dar corda às sapatilhas, a minha sorte é que agora existem sapatilhas de rodinhas o que facilitou a fuga do linchamento virtual. Não é que o people entendeu aquilo como um insulto aos nossos idosos, vi-me num filme de kung-foge, até me chamaram gueixa em português se fosse em chinês ainda vá que não vá, era mais gueixa menos gueixa, outros queriam atirar-me ao mar o que me vale é gostar mais do campo e ainda acusaram-me de ser filha da polícia. Esqueci-me de perguntar se era militar ou da judite, sabe-se lá antigamente trocavam muito os embrulhos nas maternidades, quem sabe não sou filha do Carmona, que não bato lá muito bem da mona eu já sei mas um tachinho
daqueles que dura, dura fazia cá um jeitaço no meu trem de cozinha.        
Estou desnorteada, vou consultar a minha vidente, neste caso tridente porque a senhora só tem três dentes, estou deveras preocupada com o meu futuro depois de levar com tanto vudu, não vá o diabo tece-las e sair-me um tear numa raspadinha.
Pronto já sei, acabei de dar uma boa nova ao governo, lá vem mais bronca para o meu lado, amanhã os idosos com pensões inferiores ao salário mínimo vão ser obrigados a usar sapatilhas de rodinhas e cortam as comparticipações no passe social.
Viva a liberdade de expressão!
  
          
Conceição Bernardino

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Este país não é para velhos



Os velhos com reformas miseráveis só sabem refilar ora do custo de vida ora de doenças eu sei lá mais o quê.
Para que querem estes improdutivos mais rendimentos?
Não chega os benefícios que lhes assistem, isenção de taxas moderadoras, medicamentos mais baratos, passe social por metade para andarem por ai a ver montras, raio de velhos que nunca se satisfazem com nada. Ao menos podiam ser mais gratos, talvez criássemos um “Magalhães” à altura deles para se entreterem enquanto esperam horas a fio nas urgências dos hospitais, ou quem sabe ipod’s para curtirem uma musicazinha ou uns games nos centros de saúde, no banco de jardim onde quisessem mas parem de se queixarem já não há quem os aguente são piores que chatos agarrados ao…c. (santíssimo sacramento) que ouçam a missinha das sete, deixem-nos em paz.
Os filhos não os aguentam e viram-se para nós como se tivéssemos alguma responsabilidade de zelar pelos seus direitos, morrem abandonados em casa, a culpa é nossa porque não aplicamos punições à família, são vítimas de violência domestica ou de instituições públicas nós temos que responder por quem os agride, só falta culparem-nos por estarem desnutridos ou por não tomarem os fármacos para os ais.
Têm prioridade em todos os locais públicos, B.I vitalício, duzentos e cinquenta e três euros de pensão. Não chega? Em vez de darem pão às pombas que o comam.
Será que não entendem que não andam cá a fazer nada que só atrapalham, só empatam o circuito financeiro o aumento da divida pública. É por causa desta classe que o défice cresce e o PIB não evolui. Engane-se quem pensa que vamos facilitar a vida a estes empecilhos e poupa-los das medidas de austeridade, este país não é para velhos…a cair de pobres. Viva a igualdade!

Conceição Bernardino

PS: este texto é uma critica ao governo em tom sarcástico, peço desculpa aos mais sensíveis 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Estigma



 
Os nossos estigmas tornam-nos diferentes...deixamos de ser o que queremos...as raízes mantêm-se profundas, ninguém as consegue arrancar...o que queremos esquecer, já nem a loucura da nossa ventura a consegue demolir...essa simples palavra amizade é tão complexa como
a grandeza do mar...todos querem sentir, poucos querem ouvir...todos querem receber, mas tão poucos sabem dar...os amigos ficam, quantos?
Os que têm necessidade de falar ou os que sabem escutar?
Saciam a fome da boca que não alimentam...enquanto a mácula não passa...as lágrimas confundem-se com piedade desta veracidade maldita...
As folhas caem e a nudez abraça novamente o frio...fica a recordação sentida...esta é a fragrância da vida...

 
Conceição Bernardino

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Dobro-me sobre as migalhas



Dobro-me sobre as migalhas calcinadas
num asfalto qualquer infecundo de clemência.
Espargem olhares incómodos,
 sobre a minha abóbada arruaceira.

Perdi a minha morada num portal fausto
desobedecendo à nobreza…
 … da minha instável pobreza.

Pesa-me nos bolsos sujos, a desdita
 honestidade enfatuada  da burocracia.

Alegra-me o sorrir da noite
  e as vozes que não ouço,
 as manhãs frias, vazias,
 que calo nos bancos de jardim.

Dobro-me sobre as migalhas arraigadas…
na inquietude que ainda esperam de mim.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Simplesmente Maria, Mulher


Depois de atravessar ruas desertas, olhou, sorriu e disse-me:
- Choro de alegria meu amor.
Sufoquei por uns segundos o pestanejar da luz das coisas simples, naquele momento revivi todos os dias da minha vida como se carregasse sacos cheios de aventuras. Senti-lhe o cheiro a leite, enquanto amamentava o meu corpo franzido, os seios rígidos que me protegiam eram os mesmos que hoje me abraçavam, frágeis, desprotegidos.
Olhei-a na perfeição dos meus olhos, tão hermeticamente fechados como botões de rosas acabados de nascer. Desfolhei os espinhos cravados nas ruas desertas onde demos as mãos tantas vezes, chorei finalmente, e disse-lhe:
- Caminha minha mãe, abraça-me preciso tanto de ti.

...Maria, Mulher entre as Mulheres.

Conceição Bernardino


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Simplesmente Mulher



Já não consigo compassar o tempo que perco nas pálpebras adormecidas do teu rosto, ainda ontem me sorrias, com um beijo maroto, que roubavas inocentemente dos meus lábios. Se ao menos eu pudesse devolver-te esses momentos de menina, jamais teria crescido sem me saber mulher…
…mulher, enganei-me tantas vezes, mulher, ao crer numa liberdade camuflada de calças, onde o imperialismo hasteou a bandeira da igualdade entre as pernas e a inferioridade das saias critica as próprias coxas.
Quem me mandou lançar sobre as paredes inocentes sombras gémeas que nunca se tornariam numa só.
Se algum dia te perguntarem o meu nome, diz-lhes:
- Chama-se Mulher.

Conceição Bernardino

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Simplesmente Maria



No brilho de metal oxidado,
do cabelo
o suor lambia-lhe
cansaços,
o relógio de ponto
avança,
sem hora marcada
a máquina não
pára
na rua cinzenta da cidade,
ganha-pão
pão não tem,
o ponto avança
avança o ponto
sem passado
nem futuro,
eles papam tudo
tudo papam
mudam-se os tempos
e não muda nada

…mataram-lhe um sonho
  a sangue frio…

Conceição Bernardino